Foto: Cecília Bastos / Jornal da USP
Foto: Cecília Bastos / Jornal da USP
Tratando-se de um projeto dedicado a arquivos sonoros de teatro, é inevitável haver um eixo de estudos de conservação e arquivos propriamente ditos. Para buscar pistas para resolver os eventuais problemas práticos e conceituais encontrados, partiremos dos estudos desenvolvidos pela o laboratório que desenvolveu a pesquisa pioneira sobre a dimensão sonora do teatro, a Unidade Mista de Pesquisa THALIM (Teoria e História das Artes e Literaturas da Modernidade)vi, vinculada a três importantes instituições francesas: o CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique)vii, a ENS (École Normale Supérieure)viii e a Université Sorbonne Nouvelle. A equipe francesa tem interesse em construir uma parceria com nosso projeto (cf. anexo II), já que eles têm interesse em ver testadas, adaptadas e transformadas suas metodologias e protocolos de pesquisa, desenvolvidas em outro contexto cultural e material. O trabalho desenvolvido pela equipe francesa lidou, de fato, com uma realidade material radicalmente diferente do contexto no qual se desenvolverá a pesquisa brasileira. Ao se interessar pelo tema, os pesquisadores da equipe de Marie- Madeleine Mervant-Roux puderam recorrer a diversos acervos institucionais extremamente bem conservados como o da Biblioteca nacional da França (parceira oficial do projeto iniciado pelo laboratório THALIM) e o de teatros públicos que fazem parte do patrimônio cultural do país, como a Comédie-Française.
No Brasil, a pesquisa se verá também na função de suprir a lacuna deixada pela ausência de políticas de conservação equivalentes, criando meios de valorizar, disponibilizar, conservar – e, principalmente, não perder – os ricos documentos sonoros que ainda temos ou estamos produzindo. Sendo assim, essa parceria nos permitirá, como dito, a apropriação de algumas dessas metodologias e protocolos, o que será importante para aprofundar e expandir a reflexão sobre o campo. Além disso, nossa já mencionada parceria com a Escola Europeia de Pesquisa (EUR) Translitterae será valiosa para nossa reflexão sobre este eixo. Dois membros especializados em arquivos já demonstraram o interesse na aproximação com nossa pesquisa: Elsa Marguin-Hamon, diretora de pesquisa em conservação e arquivos e responsável pelas relações internacionais da École Nationale des Chartesix, e Nathalie Ferrand, pesquisadora do CNRS especialista em manuscritos, estão diretamente interessadas. Além disso, a EUR realizará, em setembro de 2023, um Colóquio Internacional de Arquivos e já convidou nosso projeto para participar (cf. Anexo IX). Desse modo, a equipe fará parte das principais e mais atuais discussões acerca do pensamento arquivístico e trará para o debate as experiências e dúvidas encontradas ao longo da pesquisa.
Outra discussão que deve contaminar o projeto são aquelas tratadas pelas Humanidades Digitais, uma área transdisciplinar que se interessa pelo modo como o meio digital muda a forma de pensar, produzir pesquisa, apresentá-la ao público. Trazidas para a equipe pelos pesquisadores Ana Wegner e Charles Feitosa, do PopLab, eles pretendem trazer reflexões e provocações acerca do tratamento e da divulgação de acervos teatrais, naturalmente multimídia. Sem a linearidade do texto escrito em papel, que estabelece uma sequência para a exposição dos conteúdos, o meio digital é rizomático, pois os hiperlinks podem levar o leitor a outros conteúdos, sem uma ordem previamente estabelecida pelo autor. Essa é uma mudança paradigmática, que atinge todas as ciências humanas, e é tratada por essa corrente. Nosso projeto já foi convocado a participar do Colóquio Internacional em Humanidades Digitais (cf. Anexo IV). Ana Wegner, que coorganiza o evento, fará uma comunicação sobre a análise de vozes de atores em arquivos sonoros.