O Eixo aborda a complexidade na definição de conceitos e vocabulários no estudo do som no teatro, destacando a falta de clareza tanto na lusofonia quanto em outras línguas. Um projeto internacional de glossário está explorando como diferentes idiomas e disciplinas revelam particularidades na compreensão do som teatral. Um exemplo é o termo "sonoplastia", exclusivo do português brasileiro, possivelmente criado para distinguir profissionais de som em contratos de rádio. Esse estudo mostra como palavras e conceitos atravessam fronteiras culturais e tecnológicas, revelando histórias, estéticas e contextos socioeconômicos da criação sonora no teatro. A pesquisa começará identificando termos chave através de bases de dados e acervos relevantes, sendo analisados sob um modelo metodológico internacional. A equipe é diversificada, representando várias línguas e disciplinas, colaborando com a École Universitaire de Recherche Translitterae para explorar "transferências culturais" na apropriação de tecnologias e conceitos entre diferentes culturas.
O segundo Eixo do projeto se foca na compreensão da prática da criação sonora no teatro, explorando questões como os elementos sonoros de um espetáculo, os criadores desses elementos, os documentos sonoros gerados durante o processo de criação e como interpretá-los. Utilizando metodologias da genética da criação e da crítica de processo adaptadas para o contexto sonoro, o estudo visa identificar e analisar os tipos de documentos relevantes para um arquivo sonoro teatral, estabelecendo conexões entre eles. A composição sonora é colaborativa, envolvendo músicos, sonoplastas, atores, dramaturgos, diretores e outros profissionais. A pesquisa não busca ser exaustiva, mas sim proporcionar insights iniciais e modelos para estudos futuros, contando com uma equipe diversa e multidisciplinar, incluindo pesquisadores de teatro e música, técnicos de som, engenheiros, artistas, além de bolsistas responsáveis por acompanhar processos criativos para entender a produção documental.
Este Eixo tem como foco a preservação e gestão de arquivos sonoros teatrais, essenciais para entender e valorizar a história e a prática teatral. Inspirado na experiência do laboratório THALIM na França, que trabalhou com acervos bem conservados como os da Biblioteca Nacional e teatros históricos como a Comédie-Française, o projeto brasileiro adapta essas metodologias para um contexto cultural e material diferente. A colaboração com a Escola Europeia de Pesquisa Translitterae e especialistas como Elsa Marguin-Hamon e Nathalie Ferrand fortalece o desenvolvimento de estratégias de conservação e valorização dos documentos sonoros brasileiros. Além disso, o projeto se insere nas discussões das Humanidades Digitais, que exploram como o meio digital está redefinindo a pesquisa e a apresentação de acervos, especialmente os que são multimeios, como os arquivos sonoros teatrais. A abordagem não linear do meio digital, onde hiperlinks conectam diferentes conteúdos sem uma sequência fixa, representa uma mudança paradigmática relevante para as ciências humanas. Essa dinâmica será explorada pelo projeto, especialmente através das contribuições do PopLab, que trazem insights sobre como analisar vozes de atores em arquivos sonoros.
O quarto e último eixo do projeto foca no uso artístico de arquivos sonoros no teatro. Ele aborda dois principais aspectos: o uso direto de documentos sonoros em espetáculos documentários, como discutido por Denise Cobello, e o uso dos arquivos como fonte de inspiração para criações artísticas, uma prática comum no coletivo grego Medea Electronique, cujos membros contribuem para o projeto. Este eixo visa aproximar estudantes, artistas e técnicos dos arquivos sonoros, além de organizar e apresentar esses recursos de forma útil e inspiradora. O sucesso do projeto não apenas preencherá uma lacuna na pesquisa em artes cênicas, conforme solicitado pela Escola de Comunicações e Artes da USP, mas também oferecerá contribuições significativas para disciplinas como antropologia, linguística, música e sonologia.