PAISAGENS SONORAS, CENA E PROCESSO CRIATIVO
Pesquisadoras brasileiras, vinculadas ao projeto AST, apresentam suas pesquisas na IFTR 2025, Alemanha
São Paulo 10/06/2025
Jornalismo Científico do AST
PAISAGENS SONORAS, CENA E PROCESSO CRIATIVO
Pesquisadoras brasileiras, vinculadas ao projeto AST, apresentam suas pesquisas na IFTR 2025, Alemanha
São Paulo 10/06/2025
Jornalismo Científico do AST
Rafaella Uhiara e Renata Grazzini
Apresentação de Rafaella Uhiara e Renata Grazzini
A genética do som teatral por meio de arquivos sonoros: uma proposta de análise
Durante o congresso anual da International Federation for Theatre Research (IFTR), realizado em Colônia, Alemanha, as pesquisadoras brasileiras Rafaella Uhiara, coordenadora do projeto AST, e Renata Grazzini, doutoranda vínculada ao projeto, apresentaram uma investigação inédita sobre o trabalho da sonoplasta Tunica Teixeira (1949–2019), uma das pioneiras da criação sonora no teatro brasileiro. A pesquisa parte de uma perspectiva inovadora ao aplicar os princípios da crítica genética — campo que estuda os processos de criação artística a partir de documentos de trabalho — ao arquivo pessoal de Teixeira, que inclui anotações de ensaio, roteiros de sonoplastia (cue sheets) e materiais sonoros utilizados em suas montagens.
O estudo tem como foco central a encenação de O Capataz de Salema (1997), espetáculo em que a artista desenvolveu uma dramaturgia sonora marcada por lógica cênica e experimentação acústica. Ao investigar esse material, as autoras articulam o pensamento da teórica brasileira Cecília Salles, referência em crítica de processos, com os recentes debates nos performance studies, em especial os chamados giros arquivístico e sonoro — correntes que propõem novas formas de pensar a memória e a escuta como partes integrantes da criação cênica.
Segundo Uhiara e Grazinni, a proposta foi compreender o arquivo não como um repositório estático de documentos, mas como um espaço de audibilidade criativa, onde a escuta se torna uma prática crítica e artística. Nesse sentido, o trabalho contribui para repensar o lugar do som na história do teatro, muitas vezes relegado a um segundo plano em relação a textos, imagens ou registros visuais. O estudo apresentado integra o projeto Arquivos Sonoros de Teatro (AST), da FAPESP, sediado na ECA-USP, e representa um passo importante na valorização da sonoplastia como linguagem e na construção de metodologias interdisciplinares que aliam análise documental, história da arte e experimentação sonora.
Apresentação de Ana Wegner
Paisagens Sonoras Subterrâneas
Na apresentação da pesquisadora Ana Wegner, pós-doutoranda vinculada ao projeto AST, foi discutida a paisagem sonora da montagem O Concílio do Amor (1989), da companhia Boi Voador, dirigida por Gabriel Villela e encenada nos porões do Centro Cultural São Paulo. A pesquisa abordou como a ocupação de espaços subterrâneos por grupos teatrais paulistanos nas décadas de 1970 e 1980 — como o Ornitorrinco e o próprio Boi Voador — mobilizou camadas simbólicas de clandestinidade, resistência e experimentação cênica.
A peça, baseada no texto satírico do alemão Oskar Panizzi, foi reinterpretada em meio ao contexto político do pós-ditadura brasileira e à crise da AIDS, incorporando referências à linguagem carnavalesca e à cultura popular. A trilha sonora criada por Tunica Teixeira é analisada a partir da tensão entre subversão e espaço: de que forma os sons dialogavam com a dramaturgia e como os porões influenciaram acusticamente a recepção de vozes, músicas e efeitos? A apresentação propôs uma escuta crítica desses elementos como parte de uma dramaturgia sonora insurgente.